"Eu sou mau a matemática."
Oiço isto várias vezes ao dia. E começo a ficar farto. A ideia de que existem pessoas boas a matemáticas é uma das ideias mais destrutivas que existe na nossa sociedade. A verdade é que, você provavelmente é uma pessoa boa a matemática, e ao pensar o contrário, está provavelmente a demolir uma promissora carreira (basta ver o exemplo de qualquer português a gerir orçamentos familiares no meio desta conjuntura). Pior, está a ajudar a perpetuar o mito pernicioso que afeta uma grande parte das crianças - o mito da capacidade genética para a matemática ser inata.
Será a capacidade matemática genética? Sim, até certo ponto. Terence Tao, o famoso matemático virtuoso da UCLA, publica dúzias de artigos em revista de referência todos os anos, e é solicitado por investigadores de todo o mundo para os ajudar nas partes mais difíceis das suas teorias. Na prática nenhum de nós conseguirá ser tão bom em matemática como o Terence Tao, por muito que nos esforcemos ou por muito bem que sejamos ensinados. Mas, aqui está a questão: Não precisamos de o ser! Na matemática escolar, o talento inato é muito menos importante do que o trabalho duro, a preparação e a autoconfiança.
Como sei isto? Antes que tudo, tenho ensinado matemática durante anos - como professor, assistente e tutor e tenho visto este padrão repetir-se:
- Alunos diferentes, com diferentes níveis de preparação matemática, tem vindo para as aulas de matemática. Alguns têm muita prática, outros percebem à primeira do que estamos a falar enquanto que, para outros estamos a falar noutra língua completamente desconhecida.
- Durante os primeiros exercícios, os alunos bem preparados (e que estudam) obtém bons resultados, enquanto que os restantes, com esforço, conseguem obter resultados satisfatórios.
- Os alunos mal preparados, não se apercebendo que as melhores classificações (por norma) são dos alunos bem preparados, assume que a capacidade genética determinou o seu desempenho. Decidindo que não são bons a matemática, não se esforçando nas próximas aulas o que eventualmente representa uma passagem à rasca, ou mesmo a reprovação.
- Os alunos bem preparados, não se apercebendo que os outros simplesmente não estão tão preparados como eles, assumem que são bons a matemática, e trabalham mais no futuro, cimentando a sua vantagem.
Assim, a crença de que a capacidade matemática não pode mudar transforma-se numa profecia auto-realizável.
A ideia que a capacidade matemática é geralmente genética é uma das facetas mais escuras de uma falácia maior, de que a inteligência é genética.
Porquê a matemática? Porque acreditar que não se consegue aprender matemática é auto-destrutivo. A matemática é o maior bicho-papão mental de um aluno com falta de confiança. Se conseguirmos convencer um aluno que todos conseguem aprender matemática, estamos a dar um pequeno passo para o convencer que consegue aprender qualquer outra coisa, desde que trabalhe o suficiente.
Eu acredito que a educação matemática é apenas a área mais evidente de uma mudança lenta e preocupante. Assiste-se a um afastamento de uma cultura de trabalho para uma cultura de determinismo genético. No debate entre genético vs. aprendizagem existe um terceiro elemento, negligenciado - a perseverança e o esforço - que parece ter sido negligenciado. Quero trazer isso de volta, e penso que a matemática é o melhor sítio para começar.
Traduzido e "grandemente" adaptado de The myth of 'I'm Bad at Math'
Sem comentários:
Enviar um comentário
Comente com moderação...