terça-feira, 5 de novembro de 2013

O mito do "sou mau a matemática"

"Eu sou mau a matemática."

Oiço isto várias vezes ao dia. E começo a ficar farto. A ideia de que existem pessoas boas a matemáticas é uma das ideias mais destrutivas que existe na nossa sociedade. A verdade é que, você provavelmente é uma pessoa boa a matemática, e ao pensar o contrário, está provavelmente a demolir uma promissora carreira (basta ver o exemplo de qualquer português a gerir orçamentos familiares no meio desta conjuntura). Pior, está a ajudar a perpetuar o mito pernicioso que afeta uma grande parte das crianças - o mito da capacidade genética para a matemática ser inata.

Será a capacidade matemática genética? Sim, até certo ponto. Terence Tao, o famoso matemático virtuoso da UCLA, publica dúzias de artigos em revista de referência todos os anos, e é solicitado por investigadores de todo o mundo para os ajudar nas partes mais difíceis das suas teorias. Na prática nenhum de nós conseguirá ser tão bom em matemática como o Terence Tao, por muito que nos esforcemos ou por muito bem que sejamos ensinados. Mas, aqui está a questão: Não precisamos de o ser! Na matemática escolar, o talento inato é muito menos importante do que o trabalho duro, a preparação e a autoconfiança.

Como sei isto? Antes que tudo, tenho ensinado matemática durante anos - como professor, assistente e tutor e tenho visto este padrão repetir-se:
  1. Alunos diferentes, com diferentes níveis de preparação matemática, tem vindo para as aulas de matemática. Alguns têm muita prática, outros percebem à primeira do que estamos a falar enquanto que, para outros estamos a falar noutra língua completamente desconhecida.
  2. Durante os primeiros exercícios, os alunos bem preparados (e que estudam) obtém bons resultados, enquanto que os restantes, com esforço, conseguem obter resultados satisfatórios.
  3. Os alunos mal preparados, não se apercebendo que as melhores classificações (por norma) são dos alunos bem preparados, assume que a capacidade genética determinou o seu desempenho. Decidindo que não são bons a matemática, não se esforçando nas próximas aulas o que eventualmente representa uma passagem à rasca, ou mesmo a reprovação.
  4. Os alunos bem preparados, não se apercebendo que os outros simplesmente não estão tão preparados como eles, assumem que são bons a matemática, e trabalham mais no futuro, cimentando a sua vantagem.
Assim, a crença de que a capacidade matemática não pode mudar transforma-se numa profecia auto-realizável.

A ideia que a capacidade matemática é geralmente genética é uma das facetas mais escuras de uma falácia maior, de que a inteligência é genética. 

Porquê a matemática? Porque acreditar que não se consegue aprender matemática é auto-destrutivo. A matemática é o maior bicho-papão mental de um aluno com falta de confiança. Se conseguirmos convencer um aluno que todos conseguem aprender matemática, estamos a dar um pequeno passo para o convencer que consegue aprender qualquer outra coisa, desde que trabalhe o suficiente.

Eu acredito que a educação matemática é apenas a área mais evidente de uma mudança lenta e preocupante. Assiste-se a um afastamento de uma cultura de trabalho para uma cultura de determinismo genético. No debate entre genético vs. aprendizagem existe um terceiro elemento, negligenciado - a perseverança e o esforço - que parece ter sido negligenciado. Quero trazer isso de volta, e penso que a matemática é o melhor sítio para começar.

Traduzido e "grandemente" adaptado de The myth of 'I'm Bad at Math'


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